quinta-feira, 14 de maio de 2009

Distúrbios de uma louca (part 1)


Riscava furiosamente os papéis, uns atrás dos outros, tinta negra para definitivamente apagar o que fora escrito sem alma, sem sonhos, sem vontade. Negra, tão negra como a minha alma, as profundezas do meu ser, no delinear de um sorriso que eu não conhecia, que se rasgava na face, um sorriso, um misto de dor e esquizofrenia em mim. Nunca antes sorrira assim, com tanta vontade e tanta maldade.
Mas os riscos não pararam, a mão pequena e tensa tornou desconcertante o pedaço de papel que cedia a pouco e pouco, ao passo que o meu ser se dilacerava com ele.
Denoto um certo masoquismo, uma certa vontade e gozo de me perder, de cortar e desfazer o papel em pedaços, e eu? Oh frágil boneca de porcelana... Que vales tu? Desprovida de alma, desprovida de querer, de sonhar e viver. Um simples acidente e num colidir de segundos, pedaços do que foram uma alma, bocados de sonhos, vontades perdidas no tempo e uma vida que agora conhecia a morte. Também eu sou papel.
To be continued (...or not)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Ausência




A ausência é tudo o que tenho, tudo o que me deixaste, nem o sonho, sequer réstias de memória.


É uma bênção a capacidade de abstracção da mente humana. A convicta e mesmo frágil sensação que guardamos na mente o que deve ser guardado, e que recalcamos o que tem de ser esmagado e apagado por aquilo a que cientificamente chamamos "cérebro", e aquilo a que o senso comum denomina pensamento.


Tu foste arremessado rapidamente para o fundo do icebergue, o que ficou submerso, de tal forma que mal consigo recordar aqueles momentos, aqueles locais, tempos, palavras... Nunca o toque que me fazia delirar, nunca o cheiro que me estonteava a alma, nunca o beijo que me dava acesso directo ao que Adão e Eva conheciam como Paraíso.


O que é o Paraíso, senão um mito dos livros? Assim como apareceste, foste embora... Uma bonita realidade sucumbiu no mais enfermo e doentio delírio...


Hoje eu digo, com uma lágrima à espreita, como fazia em criança à porta do quarto dos meus pais "Não passou de um sonho mau".




Joana Neves