domingo, 21 de dezembro de 2008

Despedia-me...


Da ponte escura e velha,

Despedia-me de uma terra,

que não era a minha.

A neblina pairava sob o rio.

A escuridão envolta das casas.

As mães chamavam seus filhos

que jogavam à bola na rua...

As varinas recolhiam as bancas

os pescadores retornam da lida

O vento desassogava

as almas mais serenas

A chuva caía timidamente,

e eu... despedia-me.

A chuva trespassava

a camisa molhada.

a temperatura descia,

o corpo tremia....

Que importa o frio?

A chuva?

Além deles o que  me acompanha?

A triste e inglória solidão...

Mais uma vez, observava,

Mais uma vez, me apaixonava,

Mais uma vez, me despedia...

Por isso, 

Deixei a chuva beijar-me a face

Deixei que o vento me envolvesse

um abraço e despedi-me...

Porque agora era fácil, 

Passo a passo, 

Os segundos fugiam, os últimos...

Sem hesitações, sem recuos,

Soltei as mãos, deixei-me cair,

O frio apoderou-se do corpo...

As estrelas desapareceram...

Fechei os olhos e 

tornei-me água...

* Desconhecido 21/12/2008 *

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008



Chegou a hora...
Desejava ansiosamente ficar... ali, sozinha... Num sítio pouco ou nada conhecido. Os segundos passavam, os minutos fugiam à velocidade da luz por entre os dedos e o tempo esgotava-se como quando se esgotam os bilhetes para aquele grande espectáculo que tanto ambicionámos assistir...
Sabia que o minuto a seguir podia ser o último, era apenas uma questão de sorte? Ou talvez seja mais adequado dizer "destino"? Mas que importava isso?
Esta extasiante utopia estava prestes a terminar, e olhar-te era cada vez mais delicioso, cada vez mais um desejo, cada vez mais um suplício de te ter perto, de sentir aqueles escassos abraços repletos de timidez.
A cada olhar sentia o desejo, não o desejo físico, não aquela atracção que sentimos pelo que é vulgamente "bonito", mas sim a vontade de recuar no tempo e poder parar os relógios nos poucos momentos em que nos foi possível estar juntos.
Na memória levo-te o olhar, levo os abraços, os beijos e mais do que tudo um sentimento de saudade que me corta a alma em pedaços, o que de mais profundo tenho em mim.
Chegou o momento! O destino não me deu mais de 20 minutos para contemplar o teu olhar, os teus gestos e toda a magia que te envolve... sabia que ia ser a última vez... com uma certeza irreversível e triste...
Despachei a bagagem e olhei-te uma última vez, novamente aquele olhar meigo, carinhoso, daquele que me protege, daquele que move rios e montanhas para me fazer rir.
Era a ultima vez que ia ver esse ter olhar e a consciência, nestes momentos, pesa toneladas e deixa-nos como que a viver numa outra realidade paralela à que conhecemos. Era isso que sentia, como se estivesse a fugir da realidade, do sonho e a conhecer esse teu lado preferido, aquele lado que também eu aprecio em mim, às vezes... A capacidade de ignorar, de matar acontecimentos e sentimentos, como quem mata um mero insecto, sem olhar para trás, sem pensar duas vezes...
Agora é só isso que nos resta, meu amor, convencermos os outros e especialmente a nós mesmos de que o que vivemos foi um acto não reflectido e não sentido.
Olhei-te uma última vez para ver esse brilho, o brilho que se iria perder para sempre, aos meus olhos... Ia conhecer aquele teu outro "eu" que de uma ou outra forma me iria magoar.
Guardei o brulho e levei o presente na memória e daí nunca mais poderá sair. Mesmo longe vou continuar a recordá-lo, até ao dia em que, tal como tu, acredite que o que vivemos foi um erro, foi simplesmente o resultado de uma carência acumulada ou de alcóol a mais a percorrer o nosso corpo. Depois de ter partido, só posso pedir-te que sejas o mesmo que eras antes destes dias, mais não irei pedir.
Com saudades da tua sempre amiga,
Catarina 8/12/1982